Centelhas de Fé
Visão Metafísica na Obra de João Guimarães Rosa
“A morte é para os que morrem”, disse João Guimarães Rosa em uma de suas mais famosas obras, o Grande Sertão Centelhas: Veredas.
Assim sendo, ofertamos para vocês uma viagem para exegese das obras de Rosa onde, até hoje, enigmas e mistérios se encontram recônditos.
O Museu Sagarana é detentor de um comensurado de histórias que cercam nosso memorável escritor. Para isso, concebemos algumas memórias póstumas de seu passado, como sua fé inegável e sua essencialidade religiosa. Assim, traremos outras perspectivas de ver e analisar o mundo, por vários sentidos ocultos, como toda metafísica ou o hermetismo do passado recente, escondidos em seus versos. “Ser-tão, é dentro da gente.”
Logo percebemos que nossa “Conquista” (Itaguara) é cercada por uma “mineiridade” religiosa de raízes profundas.
Agradecemos sua peregrinação!
Centelhas de Fé – Julho/2022
Fotos vinculadas
Centelhas de Fé - Visão Metafísica na Obra de João Guimarães Rosa
A Fé do Rosa – Explicando a exposição
Nossa intenção hoje, é tratar da fé e de todo misticismo acerca de G. Rosa e suas obras. De acordo com Vilma sua filha, e nossa conterrânea, e também escritora dizia que toda a vida de seu pai era circundada por sonhos, premonições, casos fortuitos e coincidências.
João foi criado em um ambiente católico. Segundo sua outra filha, Agnes Guimarães Rosa, seu avô Florduardo, “puxava” o terço toda noite.
Como João mesmo disse, “o escritor deve ser o que ele escreve”. Toda influência recebida em sua criação foi transposta para sua obra.
O grande escritor dotado de seu alto grau de conhecimento disse em sua obra G.S.:V. - “Reza é que sara a loucura. No geral. Isso que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio...”.
Em todas as obras de Guimarães Rosa está presente o seu misticismo. Em G.S.:V. abrange um pouco de várias religiões. João as tratava com muito respeito.
Para exemplificar mostraremos aqui alguns contos que têm referências à Itaguara que mostram seu lado espiritual.
Em A hora e Vez de Augusto Matraga - que narra A Luta entre o Bem e o Mal – no início do conto ele escreve — “nessa noitinha de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores.” Acredito eu, que a inspiração em citar Virgem Nossa Senhora das Dores veio de nossa padroeira.
O conto narra a história de Matraga, um jagunço terrivelmente mau, que acreditava na possibilidade de mais tarde, se tornar bom, jurando que iria para o céu - "nem que seja a porrete".
São Marcos: o conto sobre feitiçaria narra a história de Izé, que pratica zombarias com o negro feiticeiro João Mangalô. Mesmo sendo alertado que não as fizesse. Para demonstrar seus poderes de feitiçaria o negro lança uma maldição a Izé, que fica cego posteriormente. O título do conto São Marcos faz uma referência ao evangelho de São Marcos, onde há o cego que volta a enxergar depois que assume o poder de Jesus Cristo.
Neste conto Guimarães Rosa, carrega uma passagem de sua vida.
Na casa do Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho, Dona Nair observa que a falta de botões na camisa, incomoda Guimarães Rosa. Ela se prontifica, em pregar os botões, mas ele se recusa. Dr. Antônio insiste com ele, dizendo que ele é “de casa”. Ele reluta, mas, diante da insistência concorda e impõe uma condição: que antes do reparo Dona Nair repita três vezes: "Coso a roupa e não coso o corpo, coso um molambo que está roto..." Dona Nair sujeita-se a condição imposta e prega os botões na camisa de João.
Em Recado do Morro, Guimarães inspira-se para compor o personagem Frei Sinfrão, num fato ocorrido em Itaguara. Foi o repentino aparecimento de um andarilho atormentado que adentra a igreja carregando uma cruz de pau amarrada com cipó, profetizando o fim do mundo e põe a correr com o sô Vigário e os religiosos. Levando a crer, que ele seria um ex-seminarista por falar palavras em latim. Guimarães Rosa acompanha este sujeito anotando os dizeres proferidos deste maltrapilho. Ao que tudo indica, Frei Sinfrão, foi criado com base neste caso.
Outro personagem de grande relevância foi o Compadre meu Quelemém, em G.S.:V. - baseado em Manoel Rodrigues de Carvalho. Morador em Carvalhos, na fazenda do Mambre, que quer dizer: morada, seio de Abrão. Grande amigo de Guimarães Rosa, trocavam cartas entre si. Cartas estas, que temos a honra em abrigá-las. Manoel Carvalho era um homem de destaque. Possuía uma biblioteca em sua casa, fato este, que o diferenciava das pessoas da época. Era espírita kardecista, muito espiritualizado e dotado de conhecimento, atuava como médico prático, tinha conhecimentos da medicina empírica. Receitava. Estas duas qualidades de “médico” e espiritualista, foram laços fortes, que fizeram nascer uma grande amizade. Em uma das cartas, G. Rosa chamava-o de meu bom enfermeiro.
No livro G. S.:V., Quelemém é quem sana as dúvidas de Riobaldo sobre os dois planos da vida. Confirmou a Riobaldo, que o Diabo personificado não existe e lhe proferia conselhos.
Boa visita!
Nossa intenção hoje, é tratar da fé e de todo misticismo acerca de G. Rosa e suas obras. De acordo com Vilma sua filha, e nossa conterrânea, e também escritora dizia que toda a vida de seu pai era circundada por sonhos, premonições, casos fortuitos e coincidências.
João foi criado em um ambiente católico. Segundo sua outra filha, Agnes Guimarães Rosa, seu avô Florduardo, “puxava” o terço toda noite.
Como João mesmo disse, “o escritor deve ser o que ele escreve”. Toda influência recebida em sua criação foi transposta para sua obra.
O grande escritor dotado de seu alto grau de conhecimento disse em sua obra G.S.:V. - “Reza é que sara a loucura. No geral. Isso que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio...”.
Em todas as obras de Guimarães Rosa está presente o seu misticismo. Em G.S.:V. abrange um pouco de várias religiões. João as tratava com muito respeito.
Para exemplificar mostraremos aqui alguns contos que têm referências à Itaguara que mostram seu lado espiritual.
Em A hora e Vez de Augusto Matraga - que narra A Luta entre o Bem e o Mal – no início do conto ele escreve — “nessa noitinha de novena, num leilão de atrás da igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dores.” Acredito eu, que a inspiração em citar Virgem Nossa Senhora das Dores veio de nossa padroeira.
O conto narra a história de Matraga, um jagunço terrivelmente mau, que acreditava na possibilidade de mais tarde, se tornar bom, jurando que iria para o céu - "nem que seja a porrete".
São Marcos: o conto sobre feitiçaria narra a história de Izé, que pratica zombarias com o negro feiticeiro João Mangalô. Mesmo sendo alertado que não as fizesse. Para demonstrar seus poderes de feitiçaria o negro lança uma maldição a Izé, que fica cego posteriormente. O título do conto São Marcos faz uma referência ao evangelho de São Marcos, onde há o cego que volta a enxergar depois que assume o poder de Jesus Cristo.
Neste conto Guimarães Rosa, carrega uma passagem de sua vida.
Na casa do Dr. Antônio Augusto de Lima Coutinho, Dona Nair observa que a falta de botões na camisa, incomoda Guimarães Rosa. Ela se prontifica, em pregar os botões, mas ele se recusa. Dr. Antônio insiste com ele, dizendo que ele é “de casa”. Ele reluta, mas, diante da insistência concorda e impõe uma condição: que antes do reparo Dona Nair repita três vezes: "Coso a roupa e não coso o corpo, coso um molambo que está roto..." Dona Nair sujeita-se a condição imposta e prega os botões na camisa de João.
Em Recado do Morro, Guimarães inspira-se para compor o personagem Frei Sinfrão, num fato ocorrido em Itaguara. Foi o repentino aparecimento de um andarilho atormentado que adentra a igreja carregando uma cruz de pau amarrada com cipó, profetizando o fim do mundo e põe a correr com o sô Vigário e os religiosos. Levando a crer, que ele seria um ex-seminarista por falar palavras em latim. Guimarães Rosa acompanha este sujeito anotando os dizeres proferidos deste maltrapilho. Ao que tudo indica, Frei Sinfrão, foi criado com base neste caso.
Outro personagem de grande relevância foi o Compadre meu Quelemém, em G.S.:V. - baseado em Manoel Rodrigues de Carvalho. Morador em Carvalhos, na fazenda do Mambre, que quer dizer: morada, seio de Abrão. Grande amigo de Guimarães Rosa, trocavam cartas entre si. Cartas estas, que temos a honra em abrigá-las. Manoel Carvalho era um homem de destaque. Possuía uma biblioteca em sua casa, fato este, que o diferenciava das pessoas da época. Era espírita kardecista, muito espiritualizado e dotado de conhecimento, atuava como médico prático, tinha conhecimentos da medicina empírica. Receitava. Estas duas qualidades de “médico” e espiritualista, foram laços fortes, que fizeram nascer uma grande amizade. Em uma das cartas, G. Rosa chamava-o de meu bom enfermeiro.
No livro G. S.:V., Quelemém é quem sana as dúvidas de Riobaldo sobre os dois planos da vida. Confirmou a Riobaldo, que o Diabo personificado não existe e lhe proferia conselhos.
Boa visita!